22/05/2011

Ode ao rosto desvairado a dois

                                                           para o nome que há na minha alcova


Hoje aquela pequena rua é uma avenida revirada de palavras migrantes, dessas que entoam e tocamos à noite. Na avenida somos o tempo sem falas, o tempo que se demora... (pausa) O quero dizer mesmo nem tem a ver com avenidas, nem palavras, nem a pequena rua, nem como nós olhávamos aquela janela, um em cima do ombro do outro... O que sinto é que só consigo estar junto quando há furacões... Converso com o magma, mas às vezes quero apenas saber que há o magma, senti-lo enquanto saudade, às vezes quero ir junto, na fúria do magma (talvez eu precise de uma nova pausa) (pausa) O corpo está tão aqui e tão longe. No corpo as palavras gozam entre os pelos, quero gozar essa saudade, macerar a pele, tocar a mão intusmecida de sangue dentro dos seios, depois farei isso com os dentes, os mesmos dentes que cheiram tua buceta como uma ordem do espírito dos banquetes... Agora me vem tua rebeldia dos cabelos, essa lança que faz pontas nos meus olhos... Essa energia... Essa energia merecia uma ode. E cheirar teus dentros durante a tarde que fabrica noites. Gosto desse sorriso que mira o meu corpo como uma guerra, essa guerra que fazemos contra as paredes, contra os infernos... Sim, sugamos energias... O corpo fica à deriva, sem mar, sem terra... Apenas bocas que não vendem seus gostos, preservam isso que a rede tem nas costuras, seus segredos... Você deixou segredos no enredo da rede, todas as noites ela faz palavras no fundo das costuras...


(pausa)

Vi você acontecendo quando entregastes teu corpo ao meu regaço... Apareceram bravuras leves... Vi você mais intensa... Vi você apontar furtos de frutas, Vi você dizer não suba alto de mais no poste, Vi você guiar um cão pelas ruas, Vi você rir entre fumaças, Vi você trazer suas coisas, Vi você abrindo o seu corpo, Vi você nas palavras que teus cabelos escondem, Vi você fazer um silêncio sobre meu peito quando partias, Vi você perguntar onde vamos, Vi você dizer que tinha que ir e que não queria ir, Vi você dentro de você quando teus escritos abriram sangue, Vi você fotografar a noite dentro de um fogo que havia no quarto, Vi seu quarto espalhado no teu corpo, Vi minha carta ir embora para o colo dos teus seios, Vi tua pele da distância que a minha pele não via nada, apenas estava cada vez mais perto, Vi você dizer palavras furacão, Vi você dar nome a tua alcova, Vi minha rede te dormindo, Vi que eu estava entre você e eu e você entre os seus e meus, Vi que o mundo late nossos dentes... Vi e sei o que digo em poucas palavras, assim direto mesmo, disse gozos, disse paixões... Vi o segundo que não sai de mim...Vi todas as palavras dentro do silêncios, Vi tua música, Vi aquela luz que pedias dentro do quarto nunca mais se apagar, Vi uma crisálida pousando na tua quentura, Vi teu sono dilatar o sol, Vi tuas dores precisarem de calor, Vi você dizer não, Vi você longe, Vi nossas palavras quanto aos portos seguros, Vi você dizer sim, Vi você "perdida perto do escuro", Vi vocês nas augustas, Vi você querer, Vi você gemer nos voos, Vi você na leveza, Vi você feliz e melancólica, Vi você parar nas escadas, quando tinhamos que fazer nossas vezes de intensidade, quando a noite pedia alturas, excesso de fogos... Vi você se tocar, Vi você perguntar de mim, Vejo você cada vez mais perto.

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