07/03/2011

Alfredo Rodrigues dos Santos

Hoje vai ser a grande obra boba, uma séria gelatina de festa, aquela que a criança Gabriel pôs para debaixo da geladeira com a ponta do pé, só para não perder tempo aos olhos do dia.


Mas hoje não sangrei partos...


* Hotel Portugal - primeira estadia temporária de meu avô, em Rio Grande.

MAS quando pequeno ia aos hospitais ver poesia. É Verdade. Meu avô Alfredo Rodrigues dos Santos dizia que a poesia estava nos partos. Ele era tesoureiro do Hospital Beneficência Portuguesa em Rio Grande. Eu o acompanhava pelos corredores da Beneficência. Uma vez houve uma correria, vários enfermeiros corriam com uma maca presa nas mãos, na maca havia uma mulher que gritava abafado, urrava a dor que logo foi embora. Entraram numa sala, a porta ficou entre aberta. Eu havia me perdido do avô. Não tiveram tempo para nada. A enfermeira desabotoou seus braços entre as pernas da mulher e retirou uma criança e disse, juro que disse, “é belo como uma poesia”. Meu avô apareceu com sua mão no meu ombro... “Gabriel...” Aquela voz de português fechou a porta e andamos pelo corredor. “Vi uma poesia vô”. Mas o avô já ia embora, dentro de um navio que aportara na maternidade, enfim, retornava para Portugal. Hoje recebo cartas de Falgarosa, do concelho de Águeda, em Portugal. O avô escreve sobre suas partidas de xadrez, me conta detalhes dos jogos. Esclarece o perfil de seus oponentes. Escreve apenas isso, o resto ele já me mostrou.

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