Tem uma formiga que entrou
no meu nariz e nunca voltou.
A. Marti
Deixei um músculo cair no tráfego dos ladrilhos, como uma gelatina. Nesses ladrilhos que guardam entre si o espaço do tropicar, de tão largos, de tanta avenida entre eles. Mas o alvo do músculo era o seio de uma formiga, mas não acertei só o seio, na verdade queria acertar o bico do seio, mas o músculo mascou a formiga de um todo nos ladrilhos do chão, bem no vão, de deixar as perninhas viradas para o céu, apontando o rosto de uma criança que agora aplica o alicate da mão nas perninhas que tremem. Ela arranca. A criança ergue a perninha da formiga na altura dos olhos. Sua mão cheira meu músculo, daquele leve contato que tudo tem com os músculos. Suporto apenas a minha maldade com as formigas. Peguei a criança pela canela e derrubei um certeiro músculo infantil, soltei a canela e a criança caiu entre os ladrilhos, entre os restos da formiga. Do alto da minha verticalidade, não sei mais diferenciar os dois que estão entrelaçados de queda, com as coisas do corpo derrubadas. Apenas vi quem é quem quando as perninhas da criança apontaram para o céu, para o meu rosto. Arranquei a perninha esquerda da criancinha, enquanto no mesmo impulso da dor a criancinha arrancou a cabeça da formiga, num golpe de mata-leão. No próximo ato de nossos impulsos, depois da perninha direita ser arrancada, esquecerei que isso começou por um seio de formiga, por um bico de seio de formiga, pelo seu contorno e firmarei a única coisa redonda que resta nesse ladrilho. Esse será o momento em que terei entre minhas mãos o rosto da criança. Pensarei na cabeça da formiga extraviada entre meus pés. Ponho meus pés nos ombros da criança, como uma alavanca, depois organizo minhas mãos abaixo do queixo, assim mesmo... desse jeito que você está imaginando agora, Leitor, vem... já que você também está pensando nisso e está com as mãos lá, tal um alicate. Então vamos, Puxe essa cabeça! Vingue aquela formiguinha que de repente um dia caiu no seu ombro e coçou delicadamente teus pelos, embaralhando um a um, no ato solitário de abrir caminho na pele.
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