To vendo uma entrevista
pra me inspirar e descobrir como acertar. Entende? É preciso acertar, entrar no
jogo. Jogar a bola se possível na mão do outro. Chegar perto, assim, abrir a
mão e dizer “olha, fiz com carinho pra você, vê se gosta”, então assim posso
voltar pra casa e riscar no calendário o dia de hoje e abrir meu diário de
veludo e escrever lá minhas opiniões e me sentir mais pleno, como um artista
que esgravata a merda e encontra o brilho de uma embalagem e faz ligações sobre
o capital mundial, quando, na verdade, não sabe nem onde fica o registro da casa para
valvular as torneiras d’águas e lavar sua mão merdada. Existir é bom. Mas por
precaução leva o elixir em punho, amigo. E outra coisa, não coma mais as
embalagens, certo? E sobre a merda, deixe ela seguir o curso. Se estiveres no
mato, por favor, enterre a merda. Sabe como é né, a mosca começa lá e depois
vem parar na tua testa. Sei que são clorofórmios fecais mínimos que ficam nas
patinhas das moscas, mas são patas esfregando merda na sua carne. A sua merda
começa na fila do mercado, no chocolatinho que compras na fila do caixa, ali os
ácidos começam a diluição. Ali começas a apodrecer. Mas, sem pânico. Somos
revestidos de pele da unha ao cabelo. Não vemos nada, camarada. Pra isso
pagamos pra uns caras de branco enfiarem cortes na gente e verem as coisas que
começam na fila do mercado. Uma vez vi uma menininha agradecendo nas
escadarias da Igreja pelo fato do seu coraçãozinho não ser exposto, assim,
sobreposto ao peito, por entre os mamilos. Ela dizia que era bom saber que
apenas cresceriam seios por sobre o peito e que era bom também que o seu
coraçãozinho ficaria lá dentro, bem guardado. Ela esfregava o peito e
sussurrava. A mãe apareceu e perguntou o que era aquilo, que não era bom fazer
isso na frente da Igreja. A menininha disse que estava agradecendo pelo peito
que estava onde estava e pelo coraçãozinho que estava onde estava. A mãe olhou
para os lados, temerosa que alguém estivesse vendo o despudor da filha. Mais
tarde, em casa, a mãe ligou para a polícia, disse que havia visto ao redor da
Igreja um homem suspeito. Que tipo de suspeito? Desses que ficam observando a
filha da gente. Depois a nossa filha some e eu fico aqui com um aperto no meu
coraçãozinho. Só de pensar meu coração solta pela garganta. Nessas horas não
tem pele que assegure. Não, moço, minha filha não sumiu, ela está aqui, mas faz
coisas estranhas, tem mexido muito no peito. Não sei, alguém deve ter ensinado.
Como é o homem? O senhor tem filha? Então, leva ela lá, e vai ver sentir o que
eu senti. Não importa como é o homem, nem se ele existe, mas quando sua filha
começar a fazer coisas estranhas é importante inventar um homem pra colocar na
história.
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